O outro lado da tela: ansiedade, exposição e adultização dos jovens nas redes sociais
- Educar com Evidências
- 20 de fev.
- 8 min de leitura
Atualizado: 6 de mar.

Se um jovem está em casa, ele está no melhor lugar que poderia, pois está completamente protegido. Será? Essa pergunta que fazemos é para alertar e propor também uma reflexão sobre o uso de redes sociais cada vez mais precoce. Redes sociais podem ser lugares incríveis para buscar informação, aprendizado, entretenimento, mas também está povoada de aspectos negativos.
A verdade, cada vez mais ampla, é que do outro lado da tela temos ansiedade, exposição e até a adultização dos jovens. Fique com a gente nesse texto se o uso dessas mídias também lhe preocupa, pai e mãe, como também profissionais da educação que se encontram em conflito com o tema. Será que devemos proibir? Vamos pensar nos impactos para desenvolver nossas próprias respostas.
O que as estatísticas mostram sobre jovens e o uso das redes sociais?

Atualmente, as crianças estão cada vez mais conectadas às redes sociais, e isso acontece com muita facilidade, parece não ter "escapatória". Mesmo que existam regras para impedir o acesso dos mais novos, muitas vezes elas não funcionam bem porque é fácil burlar essas restrições nas plataformas.
De acordo com a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2023, realizada pelo Cetic, quase 90% das crianças e adolescentes entre 9 e 17 anos já possuem uma conta em alguma rede social. Entre todas as plataformas que eles usam, o Instagram é a mais popular, sendo utilizado por 36% desse público. O TikTok aparece em terceiro lugar, com 27% de usuários nessa faixa etária.
Outro estudo, realizado pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mostrou que, entre 2016 e 2021, o tempo que as pessoas das capitais brasileiras e do Distrito Federal passam no celular, computador ou tablet para lazer aumentou de 1,7 para 2 horas por dia. Se para os adultos também está alarmante, imagina para os jovens.
A especialista Evelyn Eisenstein, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), explicou em entrevista à CNN, que apesar da grande preocupação social, não existe uma idade certa para a criança começar a usar esses dispositivos. Estamos falando de uma geração que já nasce conectada, há muita complexidade em tentar retirar isso bruscamente. No entanto, é fundamental que educadores, por questões éticas e de aprendizado, e pais por segurança, apresentem limites. O trabalho deve ser em conjunto, com a escola, clínicas e o lar.
Ainda segundo essa especialista, o grande problema é o que o jovem deixa de fazer quando passa muito tempo no celular ou tablet. Sociabilizar presencialmente, estudar, praticar esportes, passear ao ar livre, ou seja, gerar conexões para experiências reais está ficando raro. E isso é essencial para o desenvolvimento das habilidades afetivas e sociais de um jovem, fora a construção da sua autoestima e posicionamento como futuros adultos.
O uso dos aparelhos celulares, redes sociais e a ansiedade nos jovens
Quando o jovem passa a mergulhar nas redes sociais e dedicar todo o seu tempo, ele começa a repetir padrões do que aprendeu por ali. Pode ser tanto algo inofensivo, como algo negativo. Em casos mais extremos, pesquisadores já indicam que o uso excessivo pode causar dependência digital, que já é considerada uma doença.
Do ponto de vista geral, a ansiedade é algo que sempre esteve presente, mas com o tempo, a forma como entendemos e lidamos com ela tem mudado bastante. Os psicólogos vêm estudando esse tema de diferentes maneiras, e hoje sabemos que a ansiedade é um problema psicológico que afeta muita gente, principalmente os jovens da geração Z, composta por indivíduos nascidos entre 1998 e 2010, que vivem em um mundo cheio de tecnologia e desafios sociais que nunca existiram antes.

Um estudo realizado pela healthtech Vittude revelou que 27,17% dos jovens dessa geração relataram ansiedade, 36,48% estresse e 27,49% depressão. Esses números contrastam com os das gerações mais velhas, como os Baby Boomers, que apresentaram 5% de ansiedade e 7,5% de estresse. A familiaridade constante com a tecnologia e a exposição excessiva a informações são apontadas como possíveis fatores contribuintes para esse cenário.
Com o avanço da tecnologia e o acesso fácil à informação, os jovens enfrentam uma série de pressões: a busca por aprovação nas redes sociais, as dificuldades econômicas, as pressões nos estudos e no círculo social, além das expectativas afetivas cada vez maiores. Tudo isso tem aumentado os níveis de ansiedade, deixando de ser apenas uma sensação breve, para um problema real, impactando a maneira como eles se relacionam com os outros, levando ao isolamento social e queda no desempenho acadêmico.

Como profissionais da área da educação, compreendemos a potência das redes sociais, contanto que as utilizamos e entendemos que tecnologia nada mais é do que o uso do aspecto científico para suprir as necessidades humanas de conhecimento. No entanto, a faixa etária e a bagagem emocional que possuímos, nos ajudar a filtrar.
No caso dos jovens o que deveria ser uma ferramenta útil acaba se tornando um problema, pois o uso excessivo de dispositivos como smartphones, tablets e computadores está cada vez mais comum. Hoje, os jovens passam, em média, 4 a 5 horas por dia na frente das telas, e esse tempo pode ser ainda maior para muitos.
Como a ansiedade se manifesta entre os jovens devido ao uso das redes sociais?

O excesso de tempo nas redes sociais pode desencadear sentimentos de ansiedade de várias formas. Os jovens se comparam constantemente com os outros, sentem a necessidade de estarem sempre atualizados e acabam desenvolvendo um medo constante de estar “por fora” das tendências. Há até mesmo um novo conceito sobre essa necessidade exagerada de estar conectado e presente, o famoso FOMO (Fear of Missing Out).
Além disso, a pressão para ter uma vida "perfeita" exibida nas redes sociais pode levar à baixa autoestima e ao sentimento de inadequação. Outro ponto preocupante é o algoritmo das redes sociais, que funciona de forma a manter o usuário conectado pelo maior tempo possível em conteúdos indicados. Essas plataformas analisam o que cada pessoa vê, curte e compartilha, e com base nisso, sugerem conteúdos que podem reforçar padrões de comparação, alimentar inseguranças e prender os jovens em um ciclo vicioso. Quanto mais tempo de uso, mais difícil é se desconectar, o que gera ainda mais ansiedade.
Esses algoritmos são programados para oferecer exatamente o que eles acham que o usuário quer ver. Por exemplo: consumo. Quanto mais vídeos que mostram consumo são apresentados, mas indiretamente esse jovens tende a consumir não apenas pelo produto, mas por encarar como um estilo de vida. Isso torna as redes sociais um ambiente viciante.
O perigo está no fato de que, sem perceber, o jovem acaba exposto a conteúdos que podem intensificar suas preocupações e ansiedade, como padrões irreais de beleza, vidas aparentemente perfeitas e uma necessidade constante de validação online.
Por que os jovens parecem cada vez mais adultos nas redes sociais?
A “adultização” acontece quando os jovens acabam assumindo comportamentos que não são adequados para a idade delas, como se fossem mais velhas do que realmente são. As redes sociais podem acabar distorcendo a forma como esses jovens se enxergam e entendem o mundo ao seu redor. Isso acontece porque a identidade e a percepção de quem somos ainda estão em construção e são muito influenciadas pelo ambiente.
Na prática, a adultização infantil pode ser vista de diversas maneiras. No caso dos meninos, é comum que sejam expostos a conteúdos relacionados à ostentação de um estilo de vida adulto, como carros de luxo, dinheiro e comportamentos de risco, como o uso precoce de bebidas alcoólicas. Muitos tentam imitar influenciadores digitais que exibem uma vida de status e consumo, o que pode gerar frustrações e expectativas irreais.
No entanto, o impacto é ainda mais preocupante quando falamos das meninas. Nas redes sociais, é frequente a exposição a padrões estéticos irreais e a pressão para se encaixar em ideais de beleza inatingíveis. Influenciadas por conteúdos que sexualizam a aparência e o comportamento, muitas meninas passam a se preocupar excessivamente com a aparência, maquiagem, roupas e até mesmo procedimentos estéticos desde muito cedo.
Esse tipo de influência pode afetar a autoestima, levando a problemas como transtornos alimentares, ansiedade e depressão. A pressão para aparentar maturidade e perfeição nas redes sociais faz com que elas pulem etapas importantes do desenvolvimento, prejudicando a construção de uma autoimagem saudável e a vivência plena da infância.

Outro problema sério das redes sociais é a chamada “cultura do cancelamento”, que se tornou muito comum nas plataformas digitais. Quando alguém comete um erro, é julgado rapidamente e pode sofrer ataques virtuais. Adolescentes, que continuam aprendendo a lidar com críticas e formando sua personalidade, ficam ainda mais vulneráveis a esse tipo de situação.
Além disso, dependendo da personalidade de cada jovem, ser alvo de comentários negativos ou sentir-se excluído pode aumentar as chances de desenvolver problemas emocionais, como ansiedade e depressão. O uso excessivo das redes sociais também pode prejudicar a maneira como eles se relacionam com outras pessoas.

A tendência é haver dificuldades em expressar sentimentos, controlar impulsos, estabelecer limites, falar em público e até mesmo se colocar no lugar do outro podem surgir por conta do tempo excessivo no mundo digital.
Por isso, é essencial que os responsáveis estejam atentos ao que as crianças fazem na internet, orientando e limitando o uso para que possam aproveitar a tecnologia de forma saudável e equilibrada.
O Impacto do uso excessivo de redes sociais no aprendizado e como isso é desafio para a educação
Você, profissional da educação, deve se perguntar o tempo todo como lidar com o desafio do uso excessivo das redes sociais. A constante exposição às plataformas digitais não apenas desvia a atenção dos alunos, mas também interfere no desenvolvimento de habilidades essenciais para o aprendizado, como a concentração, a capacidade de reflexão crítica e a interação social saudável.

Do ponto de vista social, observa-se um aumento no isolamento e na dificuldade de estabelecer conexões interpessoais significativas. Diversos estudos também apontam que o uso prolongado das redes pode impactar negativamente funções cognitivas importantes, como a memória de trabalho e o processamento de informações.
Na prática, muitos professores enfrentam diariamente os desafios impostos pela constante distração dos alunos com seus dispositivos móveis.
As redes sociais oferecem estímulos instantâneos e recompensas rápidas que dificultam competir pela atenção dos estudantes em sala de aula. A alternância constante entre conteúdos rápidos – como vídeos curtos e mensagens instantâneas – dificulta a capacidade de manter o foco em tarefas mais longas e complexas, como leituras detalhadas ou a resolução de problemas matemáticos.
Do ponto de vista acadêmico, pesquisas indicam que o tempo excessivo nas redes está relacionado a uma redução no tempo de estudo, além de uma piora no rendimento escolar. Um estudo publicado pela American Psychological Association (APA) mostra que o uso contínuo de mídias sociais durante os estudos está associado a uma queda significativa na capacidade de retenção de informações e no desempenho em testes de memória.
Podemos juntos aprender a mudar essa realidade!

Diante desse cenário, psicopedagogos e professores têm um papel fundamental em ajudar a equilibrar o uso dessas tecnologias, garantindo que elas sejam ferramentas de aprendizado e não de prejuízo ao desenvolvimento.
Afinal, quem melhor do que esses profissionais da educação para orientar, aconselhar e intervir quando necessário? Psicopedagogos compreendem os impactos do excesso de telas na aprendizagem e no desenvolvimento cognitivo. Professores percebem, no dia a dia, como a distração digital afeta a concentração, a motivação e até mesmo a interação em sala de aula.
Cabe aos profissionais estar cada vez mais informados sobre o impacto das redes sociais na vida dos jovens. Saber identificar sinais de alerta, oferecer orientação prática e atuar de forma preventiva é uma maneira poderosa de ajudar a criar um ambiente mais saudável para as novas gerações.
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